sexta-feira, 30 de abril de 2010

Distensão


Olha só quem está por aqui. Imagens, cordas que procuram dedos afinados que reconstruam aquelas atmosferas que repetidamente dividimos. Não importa se tu não te lembrares d’alguma parte, eu escrevo sem nenhum problema, quero aumentar, procuro intensificar os mais intensos versos que reparti contigo. Confesso que essa tarefa me soa pretensiosa – levando em conta que ao aumentar sentimentos, esses tendam parecer um tanto quanto exagerados – enquanto eu e tu sabemos que isso é dispensável. Talvez alguma magia me assombre ou me encante ao lembrar dos teus olhos ou do meu peito palpitante. Ou alguma sombra descubra aquele medo – te falei, sou covarde – cinza. Apenas cinza. Nem branco nem preto, nem luz nem breu, nem sonho nem realidade. Me fala...que cor tu vês ao lembrar do nosso verão? Sinto tudo torto. Sinto-nos na distorção da fumaça do meu cigarro, encaracolada, cinzazulada. Prosa inacabada, cinzeiro vazio, troncos e galhos e folhas secas daquele mesmo jardim de antes, onde esquecemos quaisquer partes nossas.... Onde, fria, sento e componho agora.

(Mas tu dedilhas uma coisa qualquer que ecoa em cada canto do meu corpo.)

De meus dedos escorrem versos cinza – pouco numa melodia tão simples e bela e pura. Não me peças que relaxe: repercutem descompassademente corpos todos digitais, nós numa piscina de bolinhas multicoloridas, brincando sem culpas vazios escrúpulos... Não posso mais brincar sozinha. A vida me arranca tua companhia, e me faz querer-te mais. Cores não me satisfazem. Veja, pequena, minhas inteções não passam de utopias que se encostam no teu ombro. Tua respirada profunda nas minhas costas, sem cobertores, me provocam.

(Querer esconder-me em ti).

 Em cada poro cinza, em cada verso preto ou branco, e em todos os pelos que iriçam em ti quando te voltas pro meu rosto. As cordas ficaram opacas - sem som - e não posso mais rememorar. Onde gravaste teu rosto roxoesverdeado pra mim? Me olhavas por espelhos maiores que meus olhos pudessem refletir. Desculpa, preciso da tua mão. A melodia se contenta, se incorpa, e finalmente estabelece-nos plenas. Tornamo-nos observadoras das atmosferas que sem cor nos rasgam e nos mantêm o calor nas mãos.

(sucedeuassim e lusca-fusca)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nuvens laminadas,dispersas sob o céu seguramente escuro. Acima de uma das lâminas gasosas, duas estrelas pontilham - timidamente - luz segura.

domingo, 11 de abril de 2010

Mosquitos cromados

Essa noite só sonhei com quem eu amo.
As borboletas cintilam douradas lá fora
pelo dia que está lindo, pelos muros vazios.

Azulejos de cemitério me aconchegam, e me transportam:
estou indo pra um lugar menor
melhor.

Minha vida está entre paredes novas e borboletas vazias que
douram,
gratinadas pelo sol.

Mosquitos sobem em minha janela putrefando corpos esquecidos.

Os sonhos que tanto amei
vazios, cromados
embaixo;
ferrugem,
acima fuligem dispersa.

Sobre o asfalto, movimento. Abaixo, terra esquecida
vermelha, bruta, pura
Sob o céu azul-celeste, sonhos novos que
assustadamente, amo-os.

Respiro cerrando as pálpebras para que as borboletas pousem em minha cabeça, larguem
minha barriga e fervam em cada poro, corroendo e abrindo espaço para quadros, tintas e amor bruto, vermelho, escorrido.