quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Feixe de luz

A piscina era enorme, e meus pés se aproximavam dela.
De noite a água é mais convidativa.
No morno da madrugada, mergulhei no escuro. Meus pés envolviam-se em densas massas de água em movimento. Eu não me importei com a ardência da água, ofereci meus olhos à piscina, mas a obscuridade predominava. Eu seguia nadando, meus cabelos bailarinos arrastavam-se numa valsa compassada enquanto meu nado percorria o espaço, a procura de. Num instante de lume, em uma pequena área, a luz penetrava a superfície e chegava ao fundo, mas não com muita eficácia. Vendo isso, procurei me movimentar na direção daquela luz, com o fim de. Mas meus braços se chacoalhavam e minhas pernas esperneavam bruscamente, e eu não ganhava movimento. A partir disso, resolvi conferir que diabos acontecia. Foi quando notei: meu corpo se encontrava boiando, meus pulmões estavam sem ar e meu rosto devia estar provavelmente roxo. Odiava esses momentos, em que algo interessante pousava perto, entretanto algum inconveniente vindo de mim mesmo, impedia-me de chegar ao meu objetivo. Emergi para o ar fresco da noite quando cedi aos infortúnios do sistema respiratório, tirando humildemente a cabeça da água. Respirei fundo três vezes – diziam que três era um bom número -, tratei de guardar ar, prendê-lo, e mergulhar novamente. A luz ainda estava lá: plácida e paciente. Ela percorria na diagonal, e linearmente perdia sua expressão. Era alaranjada e me parecia ainda mais convidativa do que a própria piscina, em meus devaneios noturnos. Nadei até lá, tentei tocá-la e ela me iluminou, um brilho singular se fez em minhas mãos. Eu estava no meio da piscina, na metade da profundidade que ela oferecia. Num repente resolvi descer à máxima profundidade, sentar-me ao fundo e contemplar aquele fenômeno. De baixo, só havia esse feixe iluminado. Não era como mergulhar de dia e encontrar milhões de linhas de luz movimentando-se e contorcendo-se. Voltei à minha tarefa, e finalmente sentei no chão ladrilhado. Era mais frio e ainda mais escuro lá embaixo. E era o máximo que eu poderia me aventurar, ali acabavam minhas possibilidades, e a luz já não me alcançava perfeitamente, apenas podia ver através dela algumas micro-partículas passearem.
Já me levantando do chão, com a respiração comprometida, soltei algumas bolhas de ar e fiquei olhando. No que a última bolha explodiu, misteriosamente a luz apagou. Meu deus, a luz apagou, meu surpreso e único interesse naquela noite havia desaparecido! Sem palavras, e já sem fôlego nadei até a superfície, meu coração batia forte, minha respiração intensa e cansada se recuperava. Olhei pra todos os lados, não vi ninguém, nem algum vestígio de luz. Concluí que deveria sair daquele lugar, trocar de roupa e me conduzir para.

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